Um vídeo impactante, gravado pelo suplente de vereador Otávio Albuquerque e que acompanha esta reportagem, revela de forma crua e incontestável a situação crítica da saúde pública de Nova Mutum. As imagens mostram pacientes aguardando por longos períodos, muitos em condições de saúde delicadas, e escancaram a falta de médicos e a precariedade no atendimento. Relatos emocionados e indignados de moradores denunciam o abandono e o descaso com que a população vem sendo tratada pelo poder público.
As cenas gravadas evidenciam também a falta de infraestrutura adequada nas unidades de saúde do município, além de um ambiente saturado pela demanda reprimida e pela ausência de profissionais suficientes para garantir o atendimento digno à população.
Enquanto os moradores lutam para receber atendimento básico, um dado oficial chama a atenção e gera revolta: a Prefeitura de Nova Mutum pagou, somente em março deste ano, R$ 355.366,50 para uma agência de publicidade, conforme o relatório de despesas publicado no Portal da Transparência. O contrato firmado prevê um valor ainda mais expressivo: mais de R$ 1 milhão (R$ 1.220.000,00 orçados, com previsão atualizada de R$ 1.001.320,00).
Mídia turbinada em meio ao caos
O pagamento milionário é destinado à contratação de uma agência para prestação de serviços relacionados à publicidade e propaganda institucional, incluindo a veiculação de conteúdos em sites, rádios e canais de TV locais. O objetivo declarado é divulgar ações da administração municipal.
Contudo, tal investimento levanta questionamentos sérios: em um momento em que a saúde pública de Nova Mutum enfrenta uma crise visível, documentada e amplamente denunciada pela população, seria realmente prioritário destinar recursos tão altos à promoção da imagem institucional?
Vale lembrar que o município já possui um Departamento de Comunicação Social, responsável pela produção de conteúdo institucional e pelo atendimento à imprensa. A existência desse setor reforça a dúvida sobre a real necessidade de terceirizar esse serviço a custos tão elevados.
Salário superior ao de um médico
Outro aspecto que causa estranheza é o papel do servidor público Kácio Henrique da Silva Costa, que ocupa o cargo de Coordenador de Departamento na Assessoria de Imprensa e é o responsável direto pelas contratações das agências de mídia que prestam serviços à Prefeitura. Kácio recebe, segundo dados oficiais, um salário de R$ 9.983,65, cifra que supera a remuneração média de diversos profissionais médicos que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).
A disparidade salarial escancara uma política de valorização maior para setores de comunicação e promoção institucional, enquanto a saúde pública, área essencial para a garantia dos direitos fundamentais, segue sofrendo com falta de investimento e de pessoal.
Prioridades equivocadas?
Em tempos de crise e de escassez de recursos, a administração pública deveria priorizar ações que impactam diretamente a qualidade de vida da população. A decisão de investir mais de R$ 1 milhão em publicidade, enquanto as unidades de saúde enfrentam falta de médicos e estrutura precária, revela um descompasso preocupante nas prioridades da gestão municipal.
Diante desse cenário, cabe à sociedade civil e às autoridades competentes fiscalizar com rigor a destinação dos recursos públicos e exigir da administração transparência e responsabilidade.
Nova Mutum não pode continuar refém de uma política de autopromoção enquanto seus cidadãos aguardam, muitas vezes em sofrimento, pelo atendimento médico que é seu direito constitucional.
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